segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Pico da bandeira.

Eu deveria ter lá pelos meus 12 anos, era a primeira viagem pras montanhas, com direito a acampar no meio do mato e tudo, eu me sentia ofegante, ansioso. O planejado era ir eu e meu irmão(Leonardo, atualmente com 31 anos), e um grupo de amigos que encontraríamos por lá.

Léo sempre me falava sobre o pico da bandeira, contava sobre suas milhões de viagens e eu sempre ficava sonhando, imaginando como deveria ser maneira a sensação de estar ali, no meio das montanhas, e pra uma criança que eu era na época, viajar sem os pais, CACETE!! Era uma das maiores aventuras que eu podia imaginar!!

Compramos a passagem pra Caparaó, que era a cidadezinha no interior de Minas Gerais que tínhamos que ir pra de lá começar a caminhada pro pico. Os nervos foram a mil quando tive a passagem em mãos. Tava tudo meio que pronto... passagem comprada, compras feitas, mochilão arrumado, casacos, luvas, gorro!! Me animava bastante a sensacão de ir prum lugar frio, mal via a hora.

O ônibus sairia 23:30 pra chegar de manha na cidadezinha, era longe pra caralho!! E eu pensava comigo: “Não vou conseguir dormir no ônibus!! Maldita ansiedade, maldita!!!”.

E foi exatamente isso que aconteceu, nas primeiras horas de viagem eu conversava com meu irmão, ele me falava sobre o que aconteceria por lá.. Eu me sentia muito homem em viajar “sozinho”. Hahahaha. Conversamos um pouco sobre assuntos aleatórios, falamos um pouco da vida, era uma boa experiência que eu tinha naquele momento e eu tinha total noção disso.

Só que em questão de mais alguns minutos de conversa aconteceu o pior:

-Léo? Léo?

É... ele havia dormido e a minha ansiedade não me deixava pregar os olhos por um segundinho. Depois de algumas boas horas sem pregar os olhos...


CHEGAMOS EM CAPARAÓ!!!

Chegamos, FINALMENTE!!

Começamos a nos preparar, mas ainda faltava pegar um jipe pro inicío da trilha. Pechinchamos o preço e conseguimos um descontinho...

Na entrada do parque nacional, tinha uns guardinhas inconvenientes que revistava toda a galera que entrava, INCLUSIVE EU!! É... era bem provável que um menino de 12 anos estivesse com um carregamento de maconha. Hahahahaha.

Por fim, começamos a trilha, assumo que estava com medo das histórias que Léo me contara... Falava de cansaço, subidas sem fim. Mas no meu auge dos 12 anos, nada me abalava, andava com passo firme e sorriso no rosto!

Lembro-me que eu tava com uma camisa dos Ramones, e em uma das paradas pra descansar me chega um trilheiro com ar meio de desconfiado:

-Tu gosta de ramones, muleque?

Meu irmão se entre olhou comigo e respondeu com ar de “pai orgulhoso” :

- É... o muleque tem bom gosto.

Pensei comigo nesse momento e comecei a achar que aquela ~aventura~ também estava sendo bem interessante pra ele... Afinal, ele estava me iniciando na vida das viagens, montanhas e descobertas, e essa sensação deveria ser no mínimo interessante...

Depois de algumas horinhas de trilha, chegamos ao acampamento, que a galera costumava chamar de terreirão... arrumamos a barraca e fomos a procura daquele grupo de amigos que havíamos marcado de nos encontrar. Depois de alguns minutinhos, os achamos...

Já era de tarde, e o frio começava a apertar, eu ficava olhando o termômetro incessantemente, ficava amarradão em ver a temperatura cair. Hahaha. No rio de janeiro, o máximo que tinha pego era 17 graus, num dia bem frio! Hahaha.

O por do sol começava a se materializar e os pensamentos, as emoções tomavam conta de mim de tal forma que eu ficava fascinado. Eu olhava pro meu irmão, ele me olhava, e meio que conversávamos por pensamento.. Eu entendia perfeitamente o que ele queria me falar com aquele olhar.

Na nossa frente estava um mar de nuvens, que mais parecia um rebanho de ovelhas, e atrás do rebanho, aquele sol vermelho alaranjado caindo. Eu tinha cada vez mais certeza de que eu amava tudo aquilo e era isso e mais nada que eu queria pra minha vida... Conhecer lugares, pessoas, paisagens, mundos.

O SOL SE PÔS!

O sol desceu e um frio bizarro começou. Bizarro mesmo! Coisa de negativo, 2 negativos! NÓSSINHORA!

O combinado era acordar as 3 da madrugada para começar uma trilha até o pico, pra desde lá, ver o sol nascer, e assim o fizemos. As 2:59, estava eu de pé, CHEIO de casacos, congelando. Fui acordar a galera, era o mais animado de todos... Acordei todos, super empolgado!!

-Gente, gente, vamos, vamos! Já ta na hora!!!!

Começamos a trilha e chegamos dentro de algumas horinhas ao pico, ainda escuro, e o vento começou a castigar!! Estava segundo o termômetro, 3 graus negativos, e com mais a ventania, baixava a sensacao pra um uns 10 negativos. Tava PUNK...

Eu presenciava um belo céu. Estava branco com alguns pontos pretos. MUITAS estrelas, e não era preciso sorte pra ver estrela cadente. ERAM MUITAS. Aí eu pergunto pra vocês: Vocês preferem um hotel com cinco estrelas, ou um com trilhões delas? (Pensem nisso.) mas voltando...

O sol nascia e mais uma vez o rebanho de ovelhas estava por lá... Mais lindo do que nunca...

Os olhares entre mim e meu irmão voltaram a acontecer, e a minha certeza que era aquilo que eu queria aumentava cada segundo mais... Aumentava diante tudo aquilo, aquele sol, aquelas montanhas cortando os céus, ventos, amigos, natureza, liberdade, muita liberdade!!!

Tudo aquilo que eu sentia era muito bom e gratificante. Sentia vida dentro de mim.

Porém, voltando as viagens físicas.

Um cara do grupo tinha esquecido a calca, e sim, ele tava congelando de frio. Hahaha. Sofreu um bocado, mas agüentou o perrengue.. Fora isso uma galera bêbada no pico ficava tirando a roupa pra tirar foto de sunga! Muita fanfarrolice, e perigoso!

O sol nasceu, e registramos tudo em fotos! Cada detalhe.

Começamos a descida pro terreirão, e chegando lá preparamos um belo rango de gororoba de acampamento, um belo miojo com muito creme de leite e queijo ralado...

Arrumamos tudo, desmontamos barraca e se realizava meu primeiro sonho.

Chegando em Caparaó, descobrimos um restaurante de comida mineira em que se pagava 6 reais e comia o quanto quiser... É isso mesmo, 6 MERRÉIS E PODIA ENCHER O CU DE COMIDA! HAHAHA.

Eu apesar da pouca idade, já era um monstrinho devorador, comia bastante... Sentamos todos na mesa, e falávamos animados de tudo aquilo que tínhamos acabado de passar juntos. Lembro-me que foram muitas risadas, conversas...

E assim terminou essa bela viagem pro Pico da bandeira, um sonho realizado, coisas aprendidas, vida sentida, amizades feitas.

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